HOME

sexta-feira, 27 de maio de 2011

ARTIGOS - A ESCOLA PÚBLICA MORREU!




A ESCOLA PÚBLICA MORREU!
Itamar Flávio da Silveira*
Muitos defendem que o investimento em Educação é a forma mais eficiente para promover o desenvolvimento de uma nação, exigindo que se aplique mais dinheiro para o setor visando melhores salários para os professores. Trata-se de uma reivindicação bastante sólida. Tudo parece muito coerente se não fosse um pequeno detalhe: esqueceram de dizer que a escola pública presencial, de ensino fundamental e médio está morta e que é preciso saber a causa do óbito.
A morte da escola pública de ensino presencial não teve como causa o deliberado descaso dos governantes. Não faltaram recursos para as escolas e nem de pagamento de salário aos professores. Morreu porque triunfou no seio da sociedade, e dentro das escolas, uma concepção teórica que a maioria dos professores, e os chamados pensadores progressistas, defendem. A escola que já foi um espaço reservado para a transmissão de conhecimentos foi transformada num monstrengo, que tem algumas utilidades, que não serve mais para o ensino.
Cultivou-se durante muitos anos a ideia de que na escola praticava a repressão professoral que atendia os interesses das relações capitalistas. Muitos lutaram bravamente para que a escola não mantivesse a hierarquia entre diretor, professores e alunos, porque isto contribuiria para a continuidade da sociedade capitalista. Fora das escolas, parlamentares, juristas, governantes e formadores de opinião atuaram intensamente para aprovar leis que coibissem qualquer ato, por parte da escola ou da justiça, que se assemelhasse a manifestação de autoritarismo. Os esforços foram coroados de êxitos com a aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que aliada a outras leis e normas complementares acabou com qualquer possibilidade de se manter minimamente a disciplina e a hierarquia nas escolas públicas. Onde elas ainda existem se deve exclusivamente a formação moral que os alunos trazem de berço, mas que se decidirem comportar de outra forma nada poderá ser feito para podá-los nos seus intentos.
Nos dias de hoje a escola pública, de ensino presencial, se transformou numa instituição absolutamente inútil. Apesar de ter um alto custo para os contribuintes os estabelecimentos escolares perderam a capacidade de realizar a transmissão de conhecimento. Talvez seja por isso que de fato ninguém se interessa em aplicar efetivamente o calendário acadêmico de um mínimo de duzentos dias letivos por ano. Certamente seria penoso para todos e muitíssimo arriscado para os professores com mais dias para serem insultados e até correr o risco de serem agredidos pelos alunos que são agraciados com a escola pública e gratuita.

Quem duvidar das afirmações que estamos fazendo basta visitar uma escola pública ou solicitar a gravação das imagens que são rotineiras nas salas de aula. Além dos insultos que os “alunos” fazem em sala de aula com os colegas, enfrentam os professores com palavras de baixo calão e com frases desrespeitosas. A depredação das escolas é feita impunemente sob os olhares atônitos dos professores e dos alunos decentes, que preferem se calar com medo de sofrerem represálias.

A escola morta vai exalando os odores de sua putrefação diante do silêncio vergonhoso de governantes, gestores e pedagogos que não sabem o que fazer para impedir que as práticas violentas se entornem, ainda mais, sobre as adjacências do setor da educação. No entanto, os demagogos seguem praticando a delinquência intelectual sem rever suas teses e seus princípios que produziram o atual estado de coisas. Justamente no período em que o conhecimento se torna ferramenta indispensável para agregar valores aos produtos e aos serviços, vivemos, no Brasil, uma situação completamente adversa. Temos uma escola pública que não ensina, com alunos que não aprendem e com professores que literalmente não podem ser ouvidos.
A transmissão do conhecimento tornou-se um objetivo colocado em terceiro plano. Na situação em que encontram a maioria de nossas escolas seria mais convenientes que elas não existissem. Se os governantes pegassem o dinheiro que é gasto hoje nas escolas e jogasse para a população de helicóptero, provavelmente os valores seriam aplicados de forma mais proveitosa.
_______________________
*Professor do Departamento de História da UEM.


Itamar Franco é mestre no Departamento de História da Universidade Estadual de Maringá e leciona História Econômica para a graduação.

Um comentário:

  1. Não se pode afirmar então que há um descaso do governo para com a educação? O fato seria uma educação de berço para assim ir para a escola, pois os professores devem ensinar as 'matérias' mas não como os alunos devem se comportam, tal noção deveria vir com cada indivíduo. As vezes a escola pública vai morrendo, porque não há interesse do aluno aprender e de alguns professores de ensinar e assim sucessivamente..

    ResponderExcluir